terça-feira, 5 de novembro de 2019

De Florianópolis a Tiwanaku: uma viagem até as misteriosas ruínas perdidas Parte 1

Revisão em 30/12/2020

Por Julio Baladão


Desde pequeno sempre gostei de mistérios.

Coisas que eu não deveria saber, civilizações antigas e
perdidas, línguas mortas, cidades subterrâneas, UFOS,
enfim, todo o tipo de coisa que me dá aquela sensação de
“o que aconteceu aqui?”
Eu gosto mesmo é de aventura. É o que faz meu
sangue ferver e dá graça a minha vida.
Foi pensando nisso, que me deparei com esse site:
https://www.mochileiros.com/blog/as-cidades-perdidas-da-america-do-sul
Quando vi a quantidade de lugares para explorar, já não
me deu mais aquela vontade de ficar em casa mofando no sofá.
Era hora de tomar atitude e fazer o que realmente gosto:
VIAJAR.
Então, antes de qualquer coisa, me preparei MUITO antes
da fazer esta viagem. 
Fiz um “CHECK-LIST” de equipamentos,
estimativa de comida e tempo de viagem.
Acertei em quase tudo... quase.
Vou narrar agora o passo-a-passo para que outros
aventureiros de plantão saibam como foi minha
experiência, e se possível, NÃO repitam os mesmos erros
que eu cometi 
(você vai entender isso mais adiante).

Vale lembrar que é minha primeira (e com toda a certeza não será a última) viagem fora do Brasil.
Eu nunca tinha viajado sozinho antes, e tomei algumas medidas antes de viajar que me ajudaram (e muito) nessa minha primeira experiência internacional.
Eu dividi este artigo em duas partes: a viagem propriamente dita e um espaço para “erros e acertos” da viagem com o intuito de ajudar a quem tiver coragem de fazer um mochilão desses.
Agora sente em sua cadeira (ou sofá, ou na cama, ou na pia da cozinha... bem você entendeu não é?) e veja o que aconteceu comigo:
A VIAGEM (Não... não é a novela. É minha viagem mesmo, entendeu?.
  1. Terminal Rita Maria (Florianópolis - SC):
A primeira etapa da viagem começa com um bilhete de ônibus que me custou os olhos da cara (R$296,75 somente ida na época) e quase me fez desistir.

É realmente vergonhoso que em nosso país tudo seja tão caro, principalmente uma viagem de ônibus que em tese seria mais barato que avião.

Comprado o bilhete até CAMPO GRANDE – MS, a aventura começa...
  1.  (25 horas e meia depois...) Terminal Rodoviário Senador Antônio Mendes Canale - Campo Grande – MS:
Depois de quase ficar na estrada próximo a Londrina – PR por causa de um suposto “protesto” (que até hoje não entendi o porquê nem vi noticias relacionadas ao que aconteceu. Bloquearam a estrada até a cidade e não deixaram nenhum carro passar), trocar de ônibus por uma falha no sistema de descarga do banheiro (deu MERDA... literalmente) que atrasou tudo em 1 hora, cheguei à rodoviária de campo grande.

 Fui tentar comprar uma passagem de ônibus até Corumbá (principal meio de entrada até a Bolívia por terra) e para a minha surpresa, o sistema deles estava fora do ar (com aquele papo do tipo “daqui a pouco o sistema volta e concluo sua compra”). 
Cheguei lá as 18:00 horas (horário local) e fiquei, pasmem, até as 23:00 aguardando o suposto sistema voltar (tive MUITA paciência, porque na minha cabeça isso tudo era “parte da aventura”).
Nessa altura da viagem, se eu fosse uma pessoa mais medrosa (que é exatamente o oposto da minha personalidade), eu teria voltado para casa , mas eu estava afim de ir mais adiante.
Muitos devem estar se perguntando o porquê de eu não pegar outro ônibus até Corumbá. A resposta é simples: MONOPÓLIO
A Andorinha é a ÚNICA empresa que faz este trajeto, e por este motivo, faz o que bem entender e cobram o quanto quiser.
Na segunda parte do artigo eu explicarei tudo com mais calma.
  1. (Acho que umas 7 horas depois... não lembro) Terminal Rodoviário Intermunicipal - Corumbá – MS:
Bom já da para perceber que quem ingressar nessa aventura, vai ficar com a bunda dura depois de tantas horas de viagem sentado.
Chegando à cidadezinha, fui caminhando até um “Hostel” (um hotel que você divide quartos. Ótima opção para quem não quer gastar).  
Era um local bem simples, mas como eu queria mesmo era dormir até a fronteira abrir, foi o caminho mais viável.
Cochilei das 06:00 até umas 09:00. Tomei um (merecido) banho e um café da manhã (básico, mas com aquele toque de “casa de vó”) seguindo minha viagem.  



4. (Algum momento depois...) Caminho ao posto de controle da Policia Federal
 (E cruzando a fronteira)
Procurei pelo famoso “Moto-taxi” e conheci um senhor muito educado. O preço foi bem justo (R$15,00 do centro até o controle da Polícia Federal). 
Chegando ao controle da fronteira, me deparo com meia dúzia de pessoas na fila e sou abordado por dois soldados da Força Nacional de Segurança. 
Eles me questionaram o que eu ia fazer na Bolívia e disse que ia a Tiwanaku. 
Tivemos uma boa conversa e trocamos informações, inclusive sobre dicas de segurança pública e como me comportar por lá (afinal eu ia para um país com hábitos totalmente diferentes do Brasil, inclusive, que tem uma tolerância zero para assaltantes e ladrões).
Depois de conversar com eles (que foram bem legais comigo e me deram dicas valiosas para seguir viagem), fui até o posto de controle da Polícia Federal.
Na minha percepção, eu achava se tratar de algo demorado e burocrático, mas eu estava totalmente errado.
Depois de preencher uma fichinha (bem básica, parecia um bilhete de loteria) e entregar minha IDENTIDADE ao atendente, o mesmo me fez uma série de perguntas.
Coisas bem triviais, como a cidade da onde eu vinha, idade, profissão, o que eu estava indo fazer na Bolívia.
Depois de exatos 5 minutos (ou foi menos?) ele me liberou. 
Perguntei “é só isso?” e o mesmo confirmou.
Pronto, agora estava liberado para cruzar a fronteira. 
Após uma rápida caminhada, cruzo a ponte e já me dou conta que não estou mais no Brasil.
  1. Puerto QuijarroBolívia (enfim, saí do Brasil!):
 


Vieram até a mim como urubus famintos um bando de vendedores e pessoas me oferecendo serviços.
Eu os ignorei e fui até o controle Boliviano.
Chegando lá, estava tudo vazio e dava para escolher atendente 
(inclusive ao chegar lá perguntei quem poderia me atender e eles fizeram piadinha dizendo “pode escolher”).
Mesmo procedimento, “bilhetinho de loteria”, identidade e uma série de perguntas e respostas.
Uns minutos depois... Um novo mundo se abriu para mim.
Como eu já tinha um roteiro pronto da viagem (mas infelizmente fiquei sem internet naquele momento), o jeito foi voltar ao velho estilo de viagens de 20 anos atrás: sair perguntando por ai das coisas.
Primeiro: Moeda.
Sim, eles aceitam reais na fronteira.
Não, nossa moeda não é TÃO mais forte quanto a deles (R$1,00 = 1,60Bs COTAÇÃO EM MAIO DE 2019). 
Dito isto, fui trocar dinheiro.
Pergunto aqui, pergunto ali, e adivinha aonde faziam cambio de moedas?
Na tenda da esquina.
É tão banal e tão comum que para nós brasileiros seria considerado algo perigoso, mas para eles é uma questão de necessidade (ou sobrevivência, como você verá mais adiante na matéria).
Fiz um troca de 600Bs (Bolivianos) e achei que seria suficiente... 
Achei... Que idiota que eu fui.
Peguei um taxi até a estação de trem e paguei 15Bs (algo como R$9,00).
O taxista me deu algumas informações chave sobre a localidade (estava indo a Santa Cruz de La Sierra) e me disse para comprar uma pílula para tomar antes de ir a Tiwanaku (uma tal de “Boleta” que é caro) usado  para altitude.
 Cheguei a estação de trem e comprei um bilhete até Santa Cruz de La Sierra (70Bs que deu R$42,00).


O trem por si não é lá grandes coisas, mas pelo menos tem um banheiro com água para lavar as mãos e papel higiênico (veja depois a seção “erros e acertos” para entender melhor a situação), um banco confortável e DVD com qualquer coisa que eles colocarem para você assistir.
O bom deste trem é que ele saiu barato em comparação ao o ônibus (100Bs de ônibus), mas o que me chateou foram basicamente duas coisas básicas:
1. O trem não possuía um restaurante sofisticado. Era servido somente frango com pão e uns outros pratos bem esquisitos com frango. Para quem é Vegetariano / Vegano (meu caso) significa passar fome.
2. O TEMPO!  16 horas de viagem de trem contra 9 horas de ônibus. Se soubesse disso, teria ido de ônibus. 
O trem balança demais parecia que estava em um barco (ele tem o apelido de “trem da morte” não é à toa).
Aconteceram coisas engraçadas no percurso de trem, mas eu prefiro narrar isso na segunda parte deste artigo.
Posso me limitar a dizer, que brasileiro não gosta de brasileiro nem fora do país. Eu conheci “de vista” um casal de brasileiros no trem, e eles me reconheceram como compatriota no momento em que eu gravava um vídeo dentro do trem (estava sem internet e entediado. O que mais eu deveria fazer?) falando em português. 
Não houve interesse deles em falar comigo, e eu os ignorei porque  meu objetivo era TIWANAKU! (até por que acho um saco ficar falando com brasileiro fora do Brasil. Se estou indo para o exterior, não é para conhecer conterrâneos, e sim, pessoas diferentes.)
  1.  (Horas e horas de sono, cochilo e fome depois...) Terminal Bimodal Terrestre y Ferroviaria - Santa Cruz de La Sierra – Bolívia:
Depois de 16 horas dentro de um trem, a saudade bateu... 
E não foi do meu país, foi de uma cama

É totalmente desagradável dormir dentro de veículos em movimento (trem, avião, carro, etc.) e fora que o sono não fica completo.
Pois bem, agora me via num lugar totalmente estranho, sem internet, sem ideia aonde ir, e com saudade de uma cama (precisava relaxar umas horas!).
Como um perdido no mundo, eu andava de prédio em prédio nos arredores do Terminal Bimodal.
Tinha um hotel que era 190Bs e ao lado dele, uma espécie de “hospedagem”. 
Para a minha surpresa o valor era irrisório (45Bs que dava R$27,00) e fiquei feliz de ter achado um local para descansar.
Fiquei 1 dia lá, o suficiente para me conectar a internet da pensão (que era uma droga! Lenta e ruim), comprar um chip de uma operadora daquele país (e cadastrar com meu documento brasileiro, que foi bem dificultoso) e comprar comidas prontas no mercado.
Ai já começou a diferença com o Brasil.
Mercado”, para eles, é tipo um “camelô” em que se vende de tudo, desde casacos, bronzeadores até o que se realmente espera de um mercado, que é a comida.
Comprei um casaco e algumas coisas para comer e procurei um “supermercado grande” no Google Maps.
Para a minha sorte, eu estava a apenas 15 minutos a pé do HIPERMAXI, que era um mercado bem completo (que equivale a um Walmart da vida).




Foi também ali que finalmente consegui usar meus dólares no cartão pré-pago (consulte a sessão de “erros e acertos” depois de ler essa parte) para fazer compras de verdade.
É impressionante como o preço de ALGUNS alimentos são baratos (porque outros tem o triplo do preço em comparação com o Brasil), mas no geral, saiu tudo bem em conta.
Depois de tudo abastecido, de ter tido uma refeição decente em casa
(não comi em restaurante, mas comi em outros lugares. Veja a 2ª parte do artigo) dormi em uma cama que só tinha lençol (tive que dormir de casaco, pois estava uns 8° ou 6° graus a noite).
No outro dia, depois de tomar um café da manhã por 8Bs (R$5,00) eu continuei minha jornada.

Era uma manhã fria, mas não era tanto quanto o dia anterior. 
Fui até a estação bimodal para comprar minha passagem.
Outra coisa totalmente diferente do Brasil é como eles vendem as passagens:
É uma gritaria de destinos e preços que chega a parecer uma briga generalizada.

                      

En terminal de buses de Santacruz - Crédito Youtube

Eu nem sabia por onde começar...
Perguntei aqui e ali onde se vendia passagem até La paz e fui até os guichês de venda.
No meio do caminho fui atacado por uma legião de vendedores de passagem, cada um com um preço, e optei pela barganha com um cara que estava vendendo mais caro (negociei de 140Bs até 100Bs um direto semi-leito. Explico melhor na segunda parte deste artigo o porquê de o barato sair caro).
Ok...passagem na mão e horário de partida definido.
Eu estava com a manhã livre, então decidi ir à pé até ao museu de arte contemporânea (MAC) da cidade.
Depois de 1 hora de caminhada, e de muitas voltas dadas à toa com o Google Maps, chego ao museu.
Senti satisfação de ver que a parte cultural deles é bem em voga. Tudo muito bem organizado e exposto para o público.

Tinha algumas esculturas de pedra e cerâmica dentro de salas e esculturas ao ar livre.

Depois de muitas fotos, fui dar uma olhada na parte áudio-visual do museu, que me impressionou muito.
Após passar um tempo no museu conhecendo um pouco da história deles, fui ao museu militar de Santa Cruz de La Sierra.
Na porta do museu militar fui recebido por um soldado do exército Boliviano que foi bem atencioso e me mostrou um pouco de “a guerra de El-chaco” (não se paga nada para entrar, mas ele disse que se eu quisesse poderia doar qualquer quantia, daí doei 2Bs).
Muitas armas, granadas de mão (inclusive segurei uma e como eram pesadas!), uniformes e pinturas, comecei novamente a buscar informações de Tiwanaku 
(É inteligente em uma primeira viagem extrair o máximo de informações sobre determinado local, principalmente o local que eu gostaria de ir).
Falei com um Tenente-Coronel e de pronto me deu uma dica para acampar em Tiwanaku. 
Disse-me que o ideal era falar com alguém do povoado e pedir para “alugar” seu quintal perto do sítio arqueológico,  eu imaginava que a cidade possuía algum tipo de Camping perto das ruínas... (e tinha, mas não reservei)
De volta a estação bimodal, hora de partir até La paz.





  1. (mais horas de sono, filme alto e comendo porcarias) Terminal de Buses – La Paz – Bolívia:
Era umas 07:30 da manhã, as costas doíam com o excesso de bagagem e comida, o sono foi uma droga e o ônibus era desconfortável.
E assim, chego ao terminal de buses de La Paz.
 A primeira coisa que fui fazer foi o câmbio, pois a grana que troquei quase acabou (fiz um total de 1.100Bs que dá R$660,00 em média) e segui minha aventura até Tiwanaku.
Eu tinha planejado seguir um roteiro de internet, pelo cemitério de La Paz até Tiwanaku (Errei feio e gastei dinheiro. Entenda depois isso).
Peguei um táxi com muito custo e negociação (negociei a 15Bs pois o taxista era um ladrão) e cheguei no cemitério.
Essa área é enorme, equivale a 30 campos de futebol (posso estar exagerando, mas era MUITO grande!).
Fui tentar pegar um “microbus”, uma van bem apertada, para seguir viagem.
Para a minha decepção e como é costume deles, eles só partem se houver lotação completa (deve ser pela baixa demanda ou o preço de combustível, sei lá).
Conheci um cara da Nova Zelândia que ia para lá também (o cara era um esquisitão. Ele era meio grosseiro nas palavras ou não foi com a minha cara. Nunca mais vi ele na viagem, ainda bem!) e ele me falou que tinha uma van que estava saindo naquele minuto (porque depois de esperar 1 hora e meia eu já estava entediado de ficar parado, aguardando a porcaria daquela van encher!).
Depois de 1 hora (aproximadamente) e de vislumbrar uma paisagem incrível, chego aos portões do povoado!


4 comentários: