quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

De Florianópolis a Tiwanaku: uma viagem até as misteriosas ruínas perdidas - Parte 2

EDITADO EM 30/12/2020

Por Julio Baladão

Tiwanaku – Bolívia (Enfim, cheguei!):

Lá eu literalmente pulei de alegria! 
Os longos 6 dias de viagem tinham valido a pena.
Eu mandei um vídeo para os meus amigos dizendo o quanto eu estava feliz de estar lá e que tinha realizado um dos meus sonhos que era conhecer as ruínas bolivianas.
A primeira coisa (e que qualquer um com sanidade mental deve fazer em uma aventura como essa)  foi procurar um local para montar minha “base”.
Falei com um senhor aonde tinha um Camping ... E depois com uma senhora pastora de ovelhas (e afugentei as ovelhas dela que saíram correndo pelas ruas. Foi engraçado!), fui andando até o centro do povoado.
Foi no caminho, em frente ao que eles chamam de “mercado” (me lembrou aquele mercadinho que compro pão perto da minha casa. Pobre e simples) que perguntei a uma senhora se ela conhecia alguém que aluga-se um quintal.

Conheci então a senhora Maria, uma mulher que vive há muitos anos no povoado e não sai de lá de jeito nenhum.
Conversei bastante com esta simpática senhora, que me mostrou seu estabelecimento.
Era um lugar simples, mas com cara de “casa de vó”.
A senhora Maria foi extremamente hospitaleira comigo e trocamos informações sobre Tiwanaku 
(Eu pessoalmente gosto de trocar informações com pessoas, isso me dá uma ideia melhor do que vou enfrentar).
O primeiro dos dois dias que planejei ficar por lá foram cansativos (A história do “mal da altitude” é real. Fiquei com diarreia, dor de cabeça e muito, mas MUITO sono e cansaço).
Montei a barraca, comi um macarrão instantâneo e comprei um cobertor barato.
Cheguei a quase desmaiar! Foi terrível!
Maria viu que eu estava muito mal e fez chá de uma planta que não recordo o nome, na qual o gosto era muito parecido com a menta (antes de eu partir do hostel ela me deu um ramo dessa planta para cultivar no Brasil. Tive que jogar fora antes de chegar no controle de imigração por medo de me acusarem de algum tipo de crime ambiental).
Melhorei como num passe de mágica!
Dormi passando muito frio na barraca (fez -10° negativos na primeira noite e -7° negativos na segunda noite).
Mas por sorte, eu trouxe um equipamento de sobrevivência que me ajudou: o fogareiro portátil!
O teto da barraca era alto e ventilado, então deixei ele aceso a noite toda e não tive problemas com gás carbônico (a barraca estava semi-aberta). 
Acordo e tomo um café de mochileiro (chá de saquinho e bolachas) e sigo dando uma volta pelo povoado.
É nítido o impacto da cultura pré-inca na cidade: todas têm adornos e estatuetas lembrando deuses indígenas.
A maioria das casas (pelo menos as que eu vi) tinha grossas portas de madeira, lembrando muito aqueles portões medievais. Era muito bonito e muito simples! O povo de lá é bem criativo.
Seguindo pelas ruas, chego ao tão aguardado sítio arqueológico de Tiwanaku. Achei a cidade perdida!
Antes de entrar no museu arqueológico perguntei a um policial aonde era a bilheteria, e o mesmo me levou “pelo braço” até o local.
Imaginem a minha reação ao ser levado “pelo braço” até um local, ainda mais por um policial!
Pensei ter sido preso por algum crime!
Mas... Enganei-me. Era um hábito tratar as pessoas que eles simpatizam dessa maneira (eu já estava pensando em como pedir soltura... ufa!) 
Após uma rápida conversa com ele, comprei meu bilhete e fui ao museu cerâmico de Tiwanaku 
(é essencial apontar ao leitor que se quiser um guia para te acompanhar dentro do sítio arqueológico, você irá desembolsar uma boa quantia de dinheiro. Veja mais adiante isso) sem um guia, pois estava com pouco dinheiro para isso.
Segui um pequeno grupo de turistas, mas fui sozinho em cada sala do museu para entender melhor a história daquela região. É bem interessante.
Entrei em uma sala com artefatos achados dentro das ruínas, na qual não se podia bater foto (eu estava em um país estrangeiro e não queria problemas, afinal, era as minhas férias e queria explorar essa parte do mundo).
Vi uma múmia semi-preservada enrolada em uma espécie de “toga” ou manto e em posição de Lotus (posição de pernas cruzadas e coluna ereta, com as mãos repousando nos joelhos). 
Outra coisa que me chamou atenção foi um crânio humanoide que acharam durante as escavações.
Não sou nenhum paleontólogo ou arqueólogo, mas vou tentar descrever com riqueza de detalhes o que vi naquele momento:
Era um crânio masculino, pois seu formato era muito grande e muito longo para ser de uma fêmea. Sua face esquelética é bem parecida com os dos humanos atuais (As partes internas eram perfeitas, nada diferente).
Mas por outro lado, sua caixa craniana era em formato de cone, mais ou menos como daqueles aborígenes que existem em alguns lugares do mundo.
Um formato muito estranho, por assim dizer, dando a entender que seu cérebro deveria ficar em pé ao invés de deitado como é o nosso. Uma coisa realmente estranha!
Saindo do museu cerâmico (só para salientar que eu não explorei todo o sítio arqueológico. Ele é enorme) fui para as ruínas. Eu queria ver a cidade!
Adentrei os portões do enorme sítio, e comecei a caminhar (e como se caminha por lá!).
Alguns passos depois, me deparo com a “Porta do Sol” (sendo esse o mais famoso e divulgado monumento) e a “Porta da Lua”.
Fiquei extasiado com a visão daquele lugar! Magnífico!
Acho que fiquei de boca aberta e tocando o pedregulho dos muros durante horas (bom, não literalmente, é só força da expressão!) e tentando entender o que aconteceu por ali.
Apesar de todos os meus esforços, a realidade é que houve muita pouca pesquisa. Tudo ainda é um grande mistério que gira em torno do povo que viveu por lá.
Fotos e mais fotos depois, meu corpo começa a dar sinais de cansaço (eu tinha saído as 08:30 da manhã do hostel e voltei perto da 13:00. Eu estava muito exausto).
A altitude e o ar rarefeito mexeram comigo de uma maneira estranha. Senti como se tivesse caminhado por dias!
Então, o resto do dia passei dormindo e comendo na barraca.
Até a dona da casa fez piada que eu tinha alugado por dois dias o quintal dela para dormir. Ela não deixava de ter razão... soubesse ela que era a primeira vez que meu corpo estava sob uma situação extrema dessa e era normal que isso acontecesse.
No domingo, no fim do segundo dia, tomei um café da manhã boliviano com marido e filha da srª Maria.
Conversamos sobre um pouco de tudo, e provei a culinária local.
O pão deles é mais seco e fino, o café é delicioso!
É bem aguado e quase sem cheiro de café.
Me disseram mais tarde que era porque o pó do café era importado da Colômbia, o que fez sentido para mim naquele momento (a forma como se fazia também era diferente, o que alterava o gosto e o cheiro).
Me despedi deles e comecei minha jornada de volta para casa.
  1. Voltando para a casa depois de longos dias de viagem 
(foram 15 dias no total, mas pareceram mais para mim):
A  viagem de volta foi monótona, nada demais.
A única diferença era que eu tinha andado de teleférico (e tinha me dado conta de como era grande o cemitério de La Paz) e havia conhecido uma família de imigrantes da Venezuela no trem. Eram pessoas bem divertidas e bem humoradas.
Quando eles atravessaram a fronteira, fiquei contente, pois eles estavam sem ter aonde ir e precisavam chegar à casa de um parente para começar novamente sua vida. 
Tenho contato com eles até hoje, e estão bem.
Agora, depois de narrar tudo o que aconteceu comigo, faço a parte de erros e acertos.



                          ERROS E ACERTOS
(Quer ter uma viagem tranquila? Siga essas dicas):
  • Considere fazer um exame de rotina para ver sua pressão, glicose e afins. A mudança de temperatura é radical de um local a outro, então, faça refeições equilibradas para ter uma alta imunidade no seu corpo. Você vai do 35° a 5° Celsius em algumas horas!
  • Se for viajar de avião diretamente até La Paz, faça uma compra de passagem com no mínimo 8 meses de antecedência. As empresas terceirizadas vendem bilhetes bem baratos se a antecipação da passagem for bem longa. Como eu não gosto (e não tinha dinheiro para comprar) passagem antecipada, comprei logo depois de receber meu dinheiro de férias. 
  • É valido lembrar que se for via terrestre, não é obrigatório o passaporte, mas de avião é indispensável. Se não tiver passaporte, você pode ir via terrestre com o RG.
  • Se for viajar via terrestre é bem mais barato que avião (principalmente se quer se sentir como um mochileiro), MAS CUIDADO: como são poucas empresas que fazem esse trajeto saindo do sul do Brasil, os preços podem subir muito rápido (na volta paguei mais caro, por um ônibus velho e ruim).
  • SAI CARO comer na beira das estradas (tanto aqui, quanto lá). Recomendo fazer uma compra de coisas básicas direto em um mercado atacadista (ÁGUA 2L, SALGADOS, BOLACHAS, ETC) ANTES de ir viajar. Acredite quando eu digo que gastei mais de R$500,00 comendo em rodoviárias e na beira da estrada.
  • Tome muito cuidado ao dar esmolas! NÃO dê esmolas! A pessoa que souber que você anda com o dinheiro da sua viagem no bolso pode tentar te assaltar ou colocar sua vida em perigo! O lugar onde tive mais problemas foi no Brasil, por isso eu alerto aos caros viajantes.
Aqui um telefone de contato com a srª Maria
 (ela só fala Espanhol):
+591 78822775 / 7198438
Vale lembrar que a noite faz um frio extremo (abaixo de 0°), então leve bastante agasalho e cobertor.
  • Se for uma pessoa que não suporta frio extremo, não faça esse roteiro. Eu aguentei por que quis aventura.
  • NEGOCIE SEMPRE! Os bolivianos são bem malandros e gostam de cobrar mais dos turistas. Se sentir que o preço esta alto, negocie. Se não tiver como negociar, considere falar com outra pessoa. Comprei uma passagem por 80Bs de volta e me arrependi. O banco estava quebrado e tive que dormir sentado!
  • TOME CUIDADO para não comer na rua! O pessoal que faz comida de rua não usa luvas nem máscaras de proteção ao manusear alimentos! Isso é parte da cultura do país, então, só coma em restaurante onde as pessoas usem toca, avental e luvas. Sua saúde agradece!
  • A alternativa viável para se chegar a Tiwanaku indo de La Paz é por TELEFÉRICO! É muito barato (5Bs em MAIO 2019)! Do terminal de Autobuses de La Paz é só subir a Avenida Ismael Montes até a estação. Se colocar no Google Maps chega lá rapidinho.  De lá é só perguntar quais teleféricos pegar para chegar a El Alto e seguir viagem.
  • Compre um chip da ENTEL no terminal de Santa Cruz de La Sierra (10Bs em MAIO 2019) e faça cadastro com seu documento brasileiro. É rápido e só paga o chip. Na época você ativava o chip e ganhava 1GB de internet. A recarga mínima saí 3Bs, mas recarreguei 10Bs para ter mais 1GB de internet.
  • Não caia na armadilha de ir ao hotel mais barato! Reserve um com antecedência pelo Booking ou veja um hostel.
  • Tome muito cuidado com o banho dos hotéis! O local onde fiquei não tinha um banheiro adequado e a água do chuveiro ERA SOMENTE FRIA! PERGUNTE SE O LOCAL OFERECE ÁGUA QUENTE PARA BANHO!
  • É CULTURAL da Bolívia NÃO fornecer papel higiênico nos banheiros! Se usar banheiro público, por exemplo, é cobrado 1Bs e te dão uma “folinha” de papel para se limpar. Dá para limpar um lado da bunda e o outro, fica fedido. Compre um kit com 4 rolos e coloque em sua mochila!
  • A dica é óbvia, mas VÁ PARA LÁ SABENDO FALAR EM ESPANHOL! Pode ser o básico ou intermediário (meu caso) para poder se comunicar e entender o que te falam. Vi um caso bizarro de uma brasileira tentando falar em português com uma menina vendedora de pacumutos (espécie de pão de queijo mole) que claro, só falava espanhol. Não seja vítima de sua ignorância! Aprenda espanhol. O básico já serve nesses casos.
  • O real pode ser trocado dentro dos terminais sem problemas! Nossa moeda não é amplamente aceita por lá, mas as casas de cambio aceitam converter reais por pesos bolivianos.
  • O dólar é raramente usado por lá. A cotação também não ajuda muito. Se for levar dinheiro, leve reais e troque nas casas de cambio. Fiz a besteira de comprar dólar por lá que é mais caro que no Brasil e levei também um cartão pré-pago (cash passaport) à toa. 
  • NÃO TRAGA NENHUMA FOLHA DE COCA OU PLANTA DE LÁ! VOCÊ PODE ACABAR COM SUA AVENTURA NA CADEIA! 
A lei brasileira entende como tráfico qualquer quantia de entorpecente, e sendo a folha de coca uma base para cocaína e afins, no entendimento desta, um simples saquinho de coca pode te dar muita dor de cabeça!
Se for usar, use por lá e descarte antes de cruzar a fronteira. Vai evitar muitos problemas!
E A DICA DE OURO: NÃO SEJA BRASILEIRO POR LÁ!
O jeito brasileiro é mal visto em qualquer lugar do mundo!
Tenha consciência de que está lidando com outra cultura e a certeza absoluta que a sua falta de educação e cultura não serão bem vistos! Não vai agradar a ninguém!
Se for como um observador e viajante, você será bem sucedido em chegar até Tiwanaku (e bem recebido pelas pessoas também, como eu fui) e vai aprender MUITAS coisas legais no caminho! Vá com olhos de criança.
Resumindo a viagem: Foi uma das melhores experiências que tive na vida.
Para a primeira viagem internacional, eu me sai muito bem! 
Vou tentar fazer novamente este roteiro, vendo na minha agenda pessoal o que errei e acertei.
Espero com sinceridade ter auxiliado aos mochileiros e aventureiros de alma essa que promete ser uma grande experiência.
Até mais!

BONUS VIDEOS:






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